BIOGRAFIA UHF

Os UHF são uma banda portuguesa de rock formada na Costa de Caparica, Almada, no ano de 1978. São os principais responsáveis pelo surgimento do Boom do Rock em Portugal na década de 80. São os fundadores do movimento de renovação musical denominado “rock português’′ e  uma das bandas portuguesas mais prestigiadas e a mais antiga em atividade. A formação inicial fera composta por António Manuel Ribeiro (voz e guitarra), Renato Gomes (guitarra), Carlos Peres (baixo) e Américo Manuel (bateria). Atualmente são formados por António Manuel Ribeiro (voz e guitarra), António Côrte-Real (guitarra), Nuno Correia (baixo), Ivan Cristiano (bateria) e Miguel Urbano (teclados).

Anos 70

No início de novembro de 1978 realizaram o primeiro concerto no Bar É, em Lisboa, fazendo a primeira parte dos Faíscas. Nesse concerto convidaram Vitor Macaco – um operário da Lisnave com pinta para assumir a voz no espectáculo, mas estaria pouco tempo na banda. António Manuel Ribeiro ocupava apenas a guitarra rítmo e coros e só depois viria a assumir o papel de vocalista. Na plateia, o mediático radialista António Sérgio, espetador atento, confessava-se entusiasta do som underground dos UHF. O segundo concerto aconteceu na discoteca Brown’s, em Lisboa, no dia 18 de novembro de 1978, na primeira parte dos Aqui d’el-Rock. Esta é a data oficial de aniversário considerada pelos UHF porque foi o primeiro concerto com António Manuel Ribeiro na voz principal. Foi uma atuação pragmática, como recordou mais tarde: “Não sei se foi da timidez ou da falta de ensaio de som, mas tocámos tão alto e tão rápido e berrei tanto que abafámos as palmas logo com uma nova canção”. Os membros da banda viviam em Almada e as suas deslocações à capital estavam limitadas aos horários do transporte que fazia a travessia do rio Tejo. Para não perderem o último cacilheiro no regresso a casa, impunha-se a rápida saída depois dos concertos, ficando conhecidos como “Os gajos de Almada que chegam, tocam alto, depressa e desaparecem logo a seguir”.

Na primavera de 1979 foram convidados a gravar na pequena editora Metro-Som, à semelhança do que acontecera com os Aqui d’el-Rock. Sem contrato assinado lançaram em outubro desse ano o EP “Jorge Morreu”, um disco de intervenção composto por três faixas que não obteve sucesso comercial, uma vez que a editora não promovia as suas bandas tanto na rádio como na imprensa. Descontentes com a situação contactaram a multinacional PolyGram mas o rumo da editora, na altura, ainda não passava pelo rock nacional. Em 1979 já percorriam Portugal de norte a sul e conseguiram o feito inédito de uma digressão nacional completa, consolidando a sua reputação. Foram uma das poucas bandas nacionais escolhidas para fazer a primeira parte de artistas de renome internacional, caso dos Dr. Feelgood com dois concertos consecutivos a 18 e 19 de setembro no Dramático de Cascais, e de Elvis Costello, com os Attractions, nos dias 15 no pavilhão Infante de Sagres, no Porto, e 17 e 18 de dezembro no pavilhão de Os Belenenses, em Lisboa. Os UHF adquiriram junto da imprensa o estatuto de ‘banda ao vivo’, mas passavam despercebidos aos responsáveis das grandes editoras pois estes não saíam dos seus gabinetes para se inteirarem dos concertos de rua. A linguagem escrita do rock em português, direta e espontânea, chegava pela primeira vez a todos os lugares de Portugal. Os músicos atrevidos de Almada começavam a fazer a radiografia real da vida dos jovens urbanos, falando dos fluxos migratórios, marginalidade, prostituição, drogas duras e do trabalho árduo na Lisnave. Corporizavam a vivência do ‘estar à margem’ e alguma ortodoxia rock inspirada nos Doors e Lou Reed.

Anos 80

Em junho de 1981 lançaram o primeiro álbum de estúdio “À Flor da Pele” obtendo sucesso nas faixas “Rua do Carmo”, “Geraldine” e “Modelo Fotográfico”. O tema “Rapaz Caleidoscópio” tornou-se o hino da geração rebelde de 1980 e uma canção de culto. Os primeiros 12.500 exemplares do álbum incluíam um single extra com os temas “Quem irá beber comigo? (Desfigurado)” e “Noite Dentro”. O primeiro tema a ser conhecido foi “Rua do Carmo” e a sua apresentação ao público feita com uma atuação na montra de uma loja do Chiado, com a rádio em direto e a televisão a recolher imagens que o Telejornal exibiria nessa noite. Nunca antes em Portugal se tinha visto nada assim. O single ultrapassou as trinta semanas de permanência no top de preferências da rádio e o álbum foi premiado com disco de ouro por vendas superiores a 80.000 unidades. 

No início de 1982, os UHF tinham um sistema empresarial envolvente que englobava escritório, relações públicas, logística e gestão de sistemas de luz e som, que permitia à banda uma autonomia ímpar no panorama do espetáculo em Portugal. Quem fazia a primeira parte dos concertos do grupo tinha pela primeira vez direito a um som profissional, referindo-se aos aspetos técnicos que na altura só a banda tinha no país e que disponibilizava a outros artistas. Descontentes com a pouca atenção que a Valentim de Carvalho dava ao mediatismo da banda, decidiram quebrar o contrato de cinco anos e mudaram-se para a Rádio Triunfo, numa transferência que cobriu as manchetes dos jornais na época, a primeira em Portugal a envolver uma grande editora. A precipitada decisão, que apesar de submetida a votação não fora tomada por unanimidade, causou desconforto na banda. Em outubro lançaram “Persona Non Grata”, o terceiro álbum de estúdio e o mais ferozmente rock, escrito ao longo desse verão quente e agitado. O tema “Um Mau rapaz” reflete, a partir do título, o clima psicológico que envolvia o grupo, não só pela troca da editora mas também pela fotografia da capa do disco em que AMR aparece isolado alimentando a especulação de uma foto promocional para uma futura carreira a solo. Partiram em digressão pelo país passando também por França e Alemanha, no ano em que totalizaram 86 concertos. No final de 1982, a maioria das bandas resultantes do boom perderam-se pelo caminho, fosse por ingenuidade, falta de solidez nos projetos, escolha voluntária ou desencanto. Apesar das claras dificuldades musicais e sociais da época, António Manuel Ribeiro, compositor e mentor do grupo, conseguiu dar continuidade ao projeto sólido dos UHF.

Na primavera de 1983 foi editado o quarto álbum de estúdio “Ares e Bares de Fronteira” e a primeira edição esgotou rapidamente. É um disco sombrio em que as letras refletem, por um lado, uma fase negativa na vida pessoal de AMR e, por outro, as sombras do estado da nação, a austeridade que Portugal vivia com a nova entrada do Fundo Monetário Internacional em 1983. Tudo ficou mais caro, o custo de vida agravou-se e a nova editora tornou-se um paraíso perdido. Ainda assim, conseguiram realizar 72 concertos. No decorrer da digressão o baixista Carlos Peres abandonou o grupo, dando o último concerto no dia 29 de outubro, no Porto. O lugar foi preenchido por José Matos. Os UHF voltaram a apostar no segundo guitarrista nos concertos ao vivo, à semelhança do que fizeram em 1979 com Alfredo Pereira (Aqui d’EL-Rock). Convidaram Francis, que tinha deixado os Xutos & Pontapés, mas estaria pouco tempo na banda.

Em 1984 lançaram o single de inéditos “Puseste o Diabo em Mim”. O tema homónimo fala da imaginação à solta do platonismo por uma professora, enquanto que o tema do lado B, “De Um Homem Só”, é uma canção autobiográfica, um desabafo sentido sobre o começo das confusões internas no grupo. No início da primavera, Zé Carvalho sofreu um grave acidente de viação e foi substituído temporariamente por Luís Espírito Santo. Após a convalescença acabou por deixar os UHF.

Em maio de 1985 foi editado o álbum “Ao Vivo em Almada – No Jogo da Noite”, gravado ao vivo nas noites de 23, 24 e 25 de novembro de 1984 no Centro Cultural do Alfeite, em Almada. Foi lançado com o intuito de concluir as obrigações contratuais com a editora Rádio Triunfo. Descontentes, os UHF recusaram entregar novas canções e propuseram no último ano do contrato a gravação de um disco ao vivo com inclusão de três inéditos e é o primeiro disco de rock gravado ao vivo por uma banda nacional. No final de 1985, os UHF recusaram renovar o contrato com a Rádio Triunfo. A editora decretou falência pouco tempo depois e todo o espólio foi adquirido pela Movieplay, que bloqueou durante vários anos a reedição do material que a banda gravou entre 1982 e 85 e impediu a utilização dessas canções também em coletâneas. “Ao Vivo em Almada – No Jogo da Noite”, sendo uma edição limitada e com pouca probabilidade de reedição em vinil, acabou por tornar-se um disco raro e um dos mais caros do mercado de usados em Portugal. Neste disco a formação dos UHF era António Manuel Ribeiro (voz e guitarra), Renato Gomes (guitarra), Fernando Delaere (baixo) e Manuel Hippo (bateria).

Os meandros do rock português começaram a melhorar em 1986, mas os UHF viviam uma crise profunda que originou uma digressão com alguma instabilidade. O guitarrista Renato Gomes foi o último elemento da formação inicial a deixar o grupo, “saturado de tantas voltas a dar neste país tão pequeno. Manuel Hippo também abandona a bateria.

Em 1987 os UHF estavam sem editora e AMR aventurou-se a solo, de forma discreta, aproveitando assim para renovar a banda e iniciar um novo ciclo. A Fernando Delaere (baixo) juntaram-se o baterista Rui Beat Velez e o guitarrista Rui Rodrigues que substituíram, respetivamente, Manuel Hippo e Renato Gomes. Na última quinzena desse ano regressaram à Alemanha para alguns concertos junto da comunidade portuguesa.

A 20 de abril de 1988 foi estreado o tema “Na Tua Cama” no velho Estádio da Luz, perante 120 mil pessoas, numa atuação durante o intervalo de um jogo da Taça dos Clubes Campeões Europeus. O lançamento do single, fora do espaço da rádio e da televisão, foi uma inovação na música portuguesa. Em junho foi lançado o quinto álbum de estúdio “Noites Negras de Azul”, auto produzido por AMR, e que foi uma aposta do A&R António Manuel Rolo Duarte que acreditou no grupo depois de ouvir a maqueta de “Na Tua Cama”. Celebraram contrato de três anos com a Edisom. O single ocupou o primeiro lugar de preferências da rádio e o álbum teve entrada direta para o top de vendas. É um trabalho com forte sonoridade, e o disco mais ‘negro’ dos UHF, marcado pela ressaca do sucesso vivido por AMR no boom do rock português no início da década de oitenta. O próprio álbum é uma retrospeção de histórias pessoais do autor – conquistas, falhanços e revolta – notado com mais clareza nos textos das canções “Nove Anos”, “Quero Estoirar”, “Na Tua Cama” e “Íntimo (regresso do inferno)”. Conseguiram contornar a crise do rock nacional introduzindo algumas influências musicais da ala cinzenta do rock alternativo, cativando assim novos fãs. Durante as gravações o baixista Fernando Delaere e o baterista Rui Beat Velez foram substituídos, respetivamente, por Xana Sin e Luís Espírito Santo. Em novembro lançaram o sexto álbum de estúdio “Em Lugares Incertos”.

Em junho de 1989 editaram os inéditos “Hesitar”, “Está Mentira à Solta” e uma versão elétrica do tema “(Fogo) Tanto me Atrais” em maxi single. O registo incluí uma entrevista ao líder da banda. Pedro Faro, ex-A Junção, substituiu Xana Sin no baixo elétrico e Renato Júnior foi convidado a tocar saxofone no tema “Hesitar”, canção que se tornou o sucesso desse ano.

Anos 90

Em junho de 1990 foi lançado o máxi single “Este Filme – Amélia Recruta” com destaque para o tema”Amélia Recruta”, uma critica ao serviço militar obrigatório, de dimensão colonial, que teimava permanecer em Portugal e tinha apanhado novamente alguns músicos dos UHF. O baixista Xana Sin regressou à banda e saiu Pedro Faro, e o teclista Renato Júnior tornou-se membro integrante. Em outubro lançaram o segundo álbum ao vivo, Julho 13, gravado na noite de 13 de julho na Incrível Almadense celebrando o Dia Mundial do Rock. Por insistência da editora o concerto reuniu em palco – pela primeira vez depois da separação – os ex membros Carlos Peres, Renato Gomes e Zé Carvalho. Tocaram os emblemáticos temas “Cavalos de Corrida”, “Concerto”, “Rapaz Caleidoscópio” e “Geraldine”. O álbum foi galardoado com disco de prata e concluiu o contrato com a Edisom.

A 25 de setembro lançaram o sexto álbum de estúdio “Comédia Humana”, obtendo sucesso nos temas “Brincar no Fogo” e “De Segunda até Sexta”. É um disco trovadoresco, com a escrita a revelar o olhar e a tomada de consciência existencial quando uma guerra lá longe no deserto é um acontecimento diário. A canção “Comédia Humana” faz uma abordagem à primeira guerra do Golfo, em 1990, narrando a barbaridade entre militares obedientes no teatro das operações e ao vivo na televisão: “A primeira vez que uma ação militar não é fixa pela foto, mas por sequência de imagens de combate em direto pela TV”, no olhar crítico de AMR. O guitarrista Toninho e o baixista Nuno Espírito Santo protagonizaram nova mexida na banda. Na digressão atuaram nos Coliseus de Lisboa e Porto, respetivamente, a 7 e 8 de fevereiro de 1992, sendo o de Lisboa gravado pelo canal RTP. Contou com as participações especiais de Jorge Palma, Zé Pedro (Xutos & Pontapés) e Lena d’Água, e foi lançado o single “Ao Vivo no Coliseu dos Recreios”. 

Em 1992 o líder e fundador retomou o seu projeto a solo e lançou o primeiro álbum de estúdio “Pálidos Olhos Azuis”.

Em maio de 1993 os UHF lançaram o sétimo álbum de estúdio “Santa Loucura”. Um trabalho eclético, maturado, de que resultou uma panóplia de canções e vários sucessos com destaque para a versão de “Menina Estás à Janela”. “Sarajevo” é uma canção de intervenção social que retrata a barbaridade de outra guerra que renascia na Europa. Transmitida em direto pela televisão, o conflito revelava a luta pela independência das repúblicas que formavam a Federação Jugoslava. Ocorreu nova alteração na banda com as saídas de Toninho (guitarra) e Luís Espírito Santo (bateria) entrando, respetivamente, Rui Dias e Fernando Pinho e o baixista Fernando Delaere regressou à banda para o lugar de Nuno Espírito Santo. Foi um álbum muito bem recebido pelo público mas com fraco volume de vendas. A má gestão promocional da editora, uma vez que o vídeo de promoção televisiva do tema “Menina Estás à Janela” fora atribuído à compilação de vários artistas “Número 1” – que alcançou o primeiro lugar do top de vendas e aí se manteve por várias semanas – em vez de promover o próprio álbum dos UHF. As vendas de “Santa Loucura” não refletiram os múltiplos concertos realizados no verão de 1993 e a banda esteve em polvorosa com os responsáveis da BMG. O disco conquistou apenas o galardão de prata.

A 17 de maio de 1995 foi lançada a primeira coletânea do grupo, intitulada “Cheio (O melhor de)”, com alguns temas regravados com novos arranjos no Convento dos Capuchos, em Almada. Os singles de apresentação foram novas versões dos clássicos “Cavalos de Corrida” e “Rua do Carmo” e o álbum apresenta cinco inéditos, caso de “Por ti e Por Nós Dois” ou “Toca-me” que se tornaram clássicos da banda.

Em novembro lançaram o oitavo álbum de estúdio “69 Stereo”, que corroborou o rock convencional na sonoridade dos UHF. Rui Padinha tornou-se o novo guitarrista. A canção de intevenção “O Povo do Mundo” é um manifesto contra a ‘universal estupidez consciente’ do racismo, xenofobia e intolerância religiosa que tardam em desaparecer da sociedade. O tema “Foge Comigo Maria” tornou-se o maior sucesso do disco e uma das canções de maior sucesso em Portugal no ano de 96. A banda convidou Né Ladeiras para participar na faixa “Amor Perdi”.

Atento às más experiências vividas no passado, e saturado das obrigações contratuais, AMR criou a editora AM.RA Discos, no final de 1997, de forma a ter controlo sobre a sua obra, tornando os UHF editorialmente independentes. Antevendo o encolhimento da indústria discográfica nacional, arrastado pelo que acontecia no resto do mundo, a banda decidiu negociar apenas a distribuição com outras editoras. Com essa decisão, acrescida da intrépida atitude independente desde o início da carreira, os UHF foram perdendo alguma exposição mediática. O líder da banda aponta o dedo a uma imprensa “que não gosta de falar de nós e para quem as pessoas que têm sucesso e vivem de cabeça erguida são um alvo a abater. É uma imprensa que faz apostas que saem furadas e que depois tem falta de honestidade para assumir o erro”, desabafa, e recordou o fragoso percurso por si conduzido para a emancipação da banda: A independência em Portugal paga-se, por que a independência é um ato de inteligência e neste país não podemos ser inteligentes.

Em 1998 celebraram vinte anos de carreira com a edição do 9º álbum de estúdio “Rock É! Dançando Na Noite”, o primeiro disco na nova editora. “Quando (dentro de ti)” foi o tema de maior sucesso, uma canção positiva que fala da força que existe esquecida nas pessoas. A banda foi totalmente renovada com músicos mais jovens que AMR, o que proporcionou uma atitude musical mais coerente no plano de trabalho. Entraram David Rossi (baixo), Marco Cesário (bateria), Jorge Manuel Costa (teclas) e António Côrte-Real (guitarra) filho do líder da banda. Marco Cesário e António Côrte-Real participam também como compositores de algumas das canções. Em agosto participaram com o inédito “Laura In” na compilação “Promúsica 19”, numa edição da revista com o mesmo nome.

No dia 25 de junho de 1999, o grupo assinalou o vigésimo aniversário da gravação do primeiro disco com um concerto na Praça Sony no Parque das Nações, em Lisboa, integrado nas comemorações do ‘Dia Mundial de Luta Contra a Droga’. Teve as participações de Carlos Moisés e Nuno Flores, dos Quinta do Bill, de um grupo sinfónico e dos cofundadores Renato Gomes e Carlos Peres, bem como o novo baterista Ivan Cristiano que 25 anos depois continua a tomar conta das “malhas laterais” dos UHF. O espetáculo teve a edição programada da coletânea “Eternamente” (1999) que reúne os principais sucessos com algumas músicas inéditas. O álbum contempla, entre outros, a nova versão do clássico “Jorge Morreu”, três inéditos e a versão de “Angie” dos Rolling Stones. Das canções editadas entre 1982 e 1985 não foi possível integrar cinco que tinham sido escolhidas pois a editora Movieplay, que detém o espólio da extinta Rádio Triunfo, mais uma vez, não autorizou. A 18 de agosto foi editado o EP “Sou Benfica” (1999) de homenagem ao Sport Lisboa e Benfica. O convite para criar uma canção partiu da claque oficial do clube e foi aceite pelo líder da banda. O disco contém dois inéditos e três versões dessas faixas. O tema homónimo foi uma prenda que AMR quis dar ao pai no seu último ano de vida. Tornou-se o novo hino da modernidade do clube da Luz; Uma canção positiva, que não hostiliza os opositores nem promove a guerra no futebol.

Anos 2000

Após um período conturbado na vida pessoal, AMR dedicou-se, em 2000, à composição do segundo álbum a solo que contou com a participação de Renato Gomes, Alexandre Manaia, Manuel Faria, João Nuno Represas e Miguel Angelo além dos músicos dos UHF.

Em 2001 lançaram “À Beira do Tejo”, uma coletânea produzida exclusivamente para exportação não estando disponível no mercado português.

A 6 de abril de 2003 uma centena de artistas nacionais desfilaram, em tom de reivindicação, pelo incumprimento das quotas de transmissão de música portuguesa nas rádios. As cidades Lisboa, Santa Maria da Feira, Coimbra e Beja, na qual atuaram os UHF, associaram-se a esse movimento e realizaram o Mega Concerto 100% Música Portuguesa que decorreu em simultâneo nas quatro localidades. Em março lançaram o EP “Harley Jack” (2003), dedicado aos adeptos das concentrações motard e aos seus rituais de união e amizade. “Quando estou dentro do arraial das concentrações sinto-me parte de um clube, de uma aldeia gaulesa em festa”, recorda o vocalista, adepto confesso desses festivais. Contém os inéditos “Harley Jack”, “Caloira Bonita” e “Faz de Conta é um País”. Seguiu-se a edição de “Sou Benfica – As Canções da Águia” (2003), a primeira coletânea dedicada ao Sport Lisboa e Benfica. Contém o inédito “Uma Luz de Paixão” composto por AMR na tarde que antecedeu o último dia de vida do antigo estádio da Luz e, no dia 22 de março, deram um concerto antes da demolição perante uma multidão emocionada. Consolidada a formação da banda, celebraram os 25 anos de carreira com o lançamento do 10º álbum de estúdio “La Pop End Rock” (2003), uma ópera rock autobiográfica com edição conjunta da AM.RA Discos e EMI. É um trabalho grandioso e maturado produzido para representação cénica com orquestra, coreografia e intérpretes para as personagens – estrutura que não chegou a ser posta em prática. O disco teve nos temas “A Lágrima Caiu” e “Os Putos Vieram Divertir-se” os maiores sucessos. O primeiro é uma canção de amor interpretada em dueto com a cantora Orlanda Guilande, enquanto o segundo enaltece a determinação do grupo em afirmar-se no meio musical e faz uma homenagem à fiel legião de fãs. A foto da capa do disco – uma criança – ilustra o lado naïf do início da carreira da banda.

Em 2004 foram convidados pelo município de Porto Moniz para realizar um trabalho que homenageasse os imigrantes e o concelho. Gravaram “Voltei a Porto Moniz”, EP com três inéditos e que não foi distribuído no circuito comercial. Em novembro lançaram o EP “Podia Ser Natal” (2004) que recuperou, numa nova versão, o tema homónimo editado originalmente na compilação de vários artistas Espanta Espíritos, em 1995. O disco foi limitado a 500 exemplares e contém os inéditos “Quarto 603” e “Um Homem à Porta do Céu”, de 1999 e 2001, respetivamente, abrindo-se as portas do arquivo histórico dos UHF.

A 14 de março saiu o 11º álbum de estúdio “Há Rock no Cais”, um trabalho em que o amor, a relação com o Tejo, Lisboa e Almada, a crítica social e a guerra, voltaram a servir a escrita para uma sonoridade forte que revive as origens. O maior sucesso foi “Matas-me com o Teu Olhar”, em versão elétrica e outra acústica que teve a participação de um quarteto de cordas da Orquestra Metropolitana de Lisboa. A canção foi incluída na banda sonora da telenovela “Ninguém como Tu” e tornou-se num dos sucessos do ano no país.

Em setembro de 2006 foi reeditado “Há Rock no Cais”, em duplo CD e limitado a mil exemplares, que serviu para promover os concertos nos Coliseus de Lisboa e Porto realizados a 23 de setembro e 6 de outubro, respetivamente, sendo o de Lisboa gravado para edição em álbum e vídeo. A reedição contempla um disco extra com sete temas, entre os quais, o inédito “Deputado da Nação” e dois videoclips. “Estou-me nas Tintas (primeiro os meus)” foi a faixa selecionada para a banda sonora da telenovela “Fala-me de Amor”.

A 16 de abril de 2007 os UHF deram seguimento à edição das canções guardadas no arquivo histórico e lançaram a coletânea “Canções Prometidas – Raridades Volume I”, contendo sete inéditos e versões nunca antes editadas. Teve uma edição limitada numerada e exclusiva para o clube de fãs com o brinde da faixa “Coisa Boa”. O segundo volume, “Canções Prometidas – Raridades Volume II”, saiu a 24 de novembro e tem seis inéditos e novas versões incluíndo “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, com as participações de Vitorino, Samuel, Manuel Freire e José Jorge Letria.

A 23 de março de 2009, os UHF lançaram no mercado o registo no Coliseu de Lisboa em 2006, inserido na digressão “Há Rock no Cais”. Foi editado nos formatos duplo CD e DVD com o nome “Absolutamente Ao Vivo” e, como o título confere, é a reprodução fiel de tudo o que aconteceu no palco. A primeira tiragem do DVD veio acompanhada pelo single “O Tempo é Meu Amigo”, um inédito que integrou a banda sonora da telenovela “Deixa que Te Leve”. No dia 10 de agosto lançaram “Eu Sou Benfica”, a segunda coletânea dedicada a esse emblema com participação de artistas de diversas áreas afetos ao clube. Em setembro a AM.RA Discos editou a coletânea temática “Caloira Bonita” , preparada especialmente para a digressão das receções ao caloiro, com temas de referência para o mundo universitário.

Em 2010 os UHF regressaram aos originais com o lançamento do 12º álbum de estúdio “Porquê?”. É o trabalho mais politizado com proeminência da canção de combate social, como sumarizou o autor: “Trata-se de um disco em que, entre o amor e a canção política, o rock intervém”, reforçando a linha ideológica da intervenção há muito reconhecida nos UHF. Destaque para “Cai o Carmo e a Trindade” e “Porquê (Português)”, canções que responsabilizam a justiça e a medíocre classe política pelo critico estado da nação. Os temas “Vejam Bem” e “O Vento Mudou”, originalmente interpretados por José Afonso e Eduardo Nascimento, respetivamente, são as versões incluídas no álbum. É um disco positivo, sem queixumes nem lamentações, toca nos assuntos, foca certas situações muito concretas e acaba com uma canção extremamente positiva, a puxar pelas pessoas: “Portugal (somos nós)”. Em outubro iniciaram a digressão “Porquê em Portugal”, percorrendo o país com canções inquietas de alerta social que apontam rumos e apelam à consciência nacional. Ainda no ano de 2010 foi emitido pelos Correios de Portugal uma edição especial de filatelia sobre a história do rock em Portugal, da qual faz parte o selo com a capa do álbum “À Flor da Pele” de 1981. O tema “Porquê Só Ela” integrou a banda sonora da telenovela “Espírito Indomável”.

Anos 2010

Em 2011, “Porquê?” foi reeditado com cinco temas extra incluíndo o inédito “Fingir, Não Sei Fingir”. O clássico “Rua do Carmo” foi o sétimo tema colhido aos UHF para integrar bandas sonoras, dessa vez, na telenovela “Anjo Meu”, em 2011. A Tugaland e o Diário de Notícias retomaram o projeto, iniciado em 2008, da coleção com a história das melhores bandas do pop rock português desenhadas pelos mais prestigiados ilustradores portugueses e acompanhado por uma coletânea com os temas mais marcantes. A edição dedicada à banda de Almada, “BD Pop Rock Português – UHF” , foi lançada no dia 20 de maio com canções gravadas pela AM.RA Discos. O argumento e a ilustração do livro são da responsabilidade de Pedro Brito. Em 23 de julho foi colocado nos escaparates a coletânea “UHF – Bandas Míticas Vol. 04” , uma coleção associada ao jornal Correio da Manhã sobre vinte bandas que marcaram os últimos 50 anos da história da música portuguesa. Ainda em 2011 foi lançado o single “Por Portugal Eu Dou”, “uma tomada de posição ativa a favor da coesão e da identidade cívica da nação”, e foi oferecido na compra do bilhete para os concertos de gravação do álbum ao vivo em Fafe nos dias 26 e 27 de novembro.

Lançado em junho de 2012, o quarto álbum ao vivo “Ao Norte Unplugged” foi gravado em formato acústico no Teatro Cinema de Fafe e, para os membros da banda, o disco é “uma celebração ao norte e a todos os fãs anónimos que entraram e continuam a entrar para a grande família que o tempo e as canções ofereceram ao grupo”. O single de apresentação foi o clássico “Cavalos de Corrida”, em versão voz e piano. Em novembro lançaram a coletânea Canções Prometidas – Raridades Volume III, limitada a mil exemplares, dando continuidade à revelação do arquivo histórico da banda. Contém cinco inéditos, versões nunca antes editadas e os temas gravados ao vivo “Devo Eu” e “Três Peixes”.

Em 2013 celebraram o trigésimo quinto aniversário e lançaram no dia 25 de junho o 13º álbum de estúdio “A Minha Geração”, classificado pelos elementos do grupo como “um disco adulto, prenhe de rock and roll, balanceado entre Lisboa e a Califórnia”. Destaque para os textos de intervenção apontando fortes críticas sociais e políticas, e para a falta de ética e seriedade dos governantes portugueses e de toda a classe política. O tema “Vernáculo (para um homem comum)”, de dez minutos de duração, foi censurado pela rádio mas tornou-se o maior sucesso do álbum. Trata-se de um poema da autoria de AMR editado em livro em 2006. Um texto assertivo com adjetivos provocantes inseridos num contexto de linguagem: “A confissão de um homem comum. No fundo, é aquilo que se diz na rua e que os políticos não ouvem”, refere o autor, para depois constatar, “Há anónimos que me travam o passo na rua para elogiar a coragem dos UHF. Banida da rádio, é como um rio silencioso que engorda o caudal. O baixista Fernando Rodrigues deixou o grupo no decorrer das gravações e foi substituído por Luís Simões. O disco foi também editado no formato vinil com nova imagem na capa – uma pintura de AMR – simbolizando os verdes anos vividos pela sua geração, como descreve o trecho da canção título: “A minha geração/ acreditou em promessas/ engrossou a procissão/ foi indo na conversa.” Na análise do líder da banda, trata-se de um trabalho sério e requintado: “É um disco de um cidadão inquieto, de um compositor e de um escritor de canções atento ao país e ao momento que vivemos. Um disco de alguém que está muito cansado por todas as promessas que têm sido feitas ao longo dos tempos e por este declínio constante. Portugal parece um barco a afundar que nunca mais se afunda.” No decorrer da digressão “UHF 35 anos – A Minha Geração” a banda mostrou-se extremamente desiludida com a classe política. Ponderaram terminar a carreira em 2013, lamentando não estarem acompanhados por outras bandas e artistas na denúncia social e política. Em novembro comemoraram 35 anos da realização do primeiro concerto e fizeram uma versão da canção “Amores de Estudante”, oferecida por descarga digital. Nos dias 7 e 18 de dezembro atuaram, respetivamente, no Centro Cultural de Belém (Lisboa) e na Casa da Música (Porto), para edição discográfica. Os espetáculos marcaram o encerramento da digressão. A 8 de dezembro de 2013 o canal RTP estreou a série “Os Filhos do Rock”, que recorda o início da década de 1980 e o surgimento do movimento rock cantado em português. Os UHF são uma das bandas retratadas no decorrer dos 26 episódios. Trata-se de uma série de ficção que, embora assente em alguns factos verídicos. AMR, enquanto consultor da série, fez atempadamente reparos à produção por ser abalroado diariamente por cidadãos que clamavam pela verdade histórica das personagens.

No dia 6 de janeiro de 2014 foi apresentado em estreia absoluta na Rádio Renascença o inédito “Nação Benfica”, no dia em que o mundo se despediu do futebolista Eusébio. O tema só deveria ser revelado no final do campeonato, mas AMR quis homenagear Eusébio nesse dia de pesar. A canção foi editada no EP “Nação Benfica”, a 5 de maio de 2014, no mesmo dia em que foi também lançado o single “Era de Noite e Levaram”, versão rock da canção de José Afonso que tinha sido apresentada ao vivo no auditório da Antena 1, na celebração dos 40 anos da Revolução de Abril. Os dois lançamentos assinalaram a estreia dos UHF no mercado digital. Também em janeiro, a Warner Music relançou a coletânea “Grandes Êxitos – UHF”. No seguimento da atitude interventiva, lançaram o single “Os Vampiros”, mais uma versão de José Afonso, tema que é uma poderosa chamada de atenção para que nos recordemos que seremos sempre capazes de vencer os ‘vampiros’ de hoje, os governantes, que nos exauriram com austeridade ilegítima e forçada e que ficam impunes à corrupção e ilegalidades praticadas. Uma canção amargamente intemporal. A Valentim de Carvalho lançou a coleção “Essencial”, que reúne os mais consagrados artistas que gravaram para essa editora, com destaque para a coletânea “UHF – Essencial”.  No dia 24 de novembro foi lançado o quinto álbum ao vivo, “Duas Noites em Dezembro”, que condensa o registo dos concertos no Centro Cultural de Belém e na Casa da Música que marcaram o final da digressão comemorativa dos 35 anos. O duplo disco comporta 28 temas com realce para algumas canções emblemáticas que não eram tocadas ao vivo há trinta anos. Nota para o empenho patriótico em versão dramática (recitação) de AMR na interpretação de “Sonhos na Estrada de Sintra”, canção que serviu de amostra do álbum. É um disco que reúne a força mística da palavra com a energia possante do rock, revelando uns UHF humildes, verdadeiros e modernos, com uma linguagem viril e atualizada através de canções que continuam com a mesma intensidade de sempre, quer lírica quer musical.

A 27 de fevereiro de 2015 saiu com a revista Blitz o disco “Uma História Secreta dos UHF”. Tem quatro maquetas do início da carreira, três temas registados ao vivo, o inédito “Um MMS Teu” e recupera as versões “Amores de Estudante”, de Aureliano da Fonseca e Paulo Pombo de Carvalho, e “Os Vampiros” de José Afonso, ambas editadas no formato digital em 2013 e 2014, respetivamente. “Tudo se conjugou para este ano conseguirmos fazer a nossa coletânea global, onde estão reunidos os nossos maiores sucessos (…) Às vezes penso e parece que foi ontem. Nos últimos tempos temos feito muitas entrevistas e há coisas que nos vêm à memória e que me fazem rir. Olho para trás e sorrio” – O líder da banda na apresentação da coletânea global.

No início de 2015 os UHF suplantaram as trezentas canções originais editadas e deram início à digressão “UHF–300 Canções”. A 30 de outubro foi lançada a coletânea “O Melhor de 300 Canções” que celebra o trigésimo sétimo aniversário da banda, que se assinala no mês de novembro, e são também 37 as faixas que compõem esse trabalho. No primeiro disco, O Rock, estão reunidos 20 singles com os maiores sucessos, ao passo que no segundo, intitulado E o Roll, acrescenta 16 êxitos e o inédito “Soube Sempre que Eras Tu”. É a primeira coletânea global do grupo, sem sombras editoriais, em que são reveladas regravações de clássicos, temas ao vivo, canções nunca editadas digitalmente e recupera a versão de “Era de Noite e Levaram” (2014) para o formato físico. O tema de apresentação foi o single-vídeo “Puseste o Diabo em Mim” numa nova versão e filmagens que envolvem uma descida vertiginosa de skate, realizado por Zé Pinheiro (Pop Off).

No dia 30 de julho de 2016 realizaram um singular concerto no Centro de Artes e Espectáculos (CAE) na Figueira da Foz, intitulado “UHF Sinfónico”, que juntou no mesmo palco os elementos da banda e 140 músicos da Orquestra Nacional de Jovens, sob a direção do maestro Cristiano Silva. Em outubro o concerto sinfónico foi recriado no Forum Luisa Todi, em Setúbal, no âmbito das comemorações do dia mundial da música. Nos dias 2 e 3 de dezembro realizaram dois concertos temáticos, respetivamente, no Hard Club, Porto, e Centro Cultural Olga Cadaval em Sintra, designados por “Noites à Flor da Pele”, em que foram revisitados na íntegra os álbuns “À Flor da Pele” (1981) e”Noites Negras de Azul” (1988), e para celebrar o momento lançaram o EP “Tudo o que É Nosso” contendo três inéditos.

No dia 4 de julho de 2017, os UHF participaram como convidados na primeira parte do concerto dos Deep Purple, no Meo Arena, em Lisboa. A 25 de agosto saiu com a revista Blitz a coletânea “Almada 79” que revela as primeiras maquetas do rock português, registadas em 1979, e ainda os temas “Caçada”, gravado no Convento dos Capuchos em 1995, e “Jorge Morreu” captado ao vivo no Centro Cultural de Belém em 2013. No ano em que passaram 30 anos da morte de José Afonso os UHF lançaram, a 27 de outubro, “A Herança do Andarilho”, um tributo a uma das maiores referências da música nacional. “Este disco é dar continuidade à fantástica obra que ele nos deixou e revelar a semente herdada”, revelou AMR, produtor do projeto, e acrescentou: “Este é um daqueles discos que se faz uma vez na vida”. São sete versões puxadas para o som ora elétrico ora acústico a que se juntam três temas do grupo no fio condutor do legado – a herança – do mais importante cantautor português. A primeira amostra foi o tema “Traz Outro Amigo Também”, revelada a 24 de abril de 2017 em estreia na Antena 1 na comemoração dos 43 anos da Revolução de Abril. O single “No Comboio Descendente” tem a participação de Armando Teixeira.

As comemorações do quadragésimo aniversário arrancaram no dia 21 de janeiro de 2018, com a digressão “40 Anos Numa Noite”, que teve o ponto alto nos espetáculos na Aula Magna (22 de dezembro) e Casa da Música (29 de dezembro), sendo o primeiro gravado pelo canal RTP. Nesses concertos especiais participaram Renato Gomes, The Legendary Tigerman, Frankie Chavez e João Pedro Pais. No dia 4 de novembro foram reeditados em disco compacto os tão aguardados discos perdidos da Rádio Triunfo – “Persona Non Grata”, “Ares e Bares de Fronteira” e “Ao Vivo em Almada – No Jogo da Noite” – editados até então apenas em vinil e sem reedição. Os três discos contemplam faixas bónus e os inéditos lançados como lados B nos singles de promoção entre 1982 e 1985. Após ter feito uma leitura do contrato que assinou com a editora Rádio Triunfo, AMR decidiu avançar para a reedição através da sua editora AM.RA Discos salvaguardando os direitos de quem os apresentar, “se é que hoje existe alguém, legalmente, seu detentor”, disse o músico que realçou o “prejuízo enorme que representou esta ausência dos álbuns no mercado”, e concluiu “quem aparecer como legal detentor do contrato vai ter de negociar comigo, pois neste momento deve-me dinheiro”, desafiou.

A 15 de abril de 2019 foi lançado o single “Hey! Hey! Bora Lá” como primeira amostra do novo álbum, e no dia 1 de junho o Museu da Cidade de Almada inaugurou a exposição “UHF Pela Estrada do Rock” comemorativa dos 40 anos da banda, que se prolongou até 28 de setembro e que integrou testemunhos audiovisuais, cartazes e documentação, discografia, instrumentos e muitas outras peças que contam a história da banda de Almada. No dia da inauguração foi editado, no formato vinil, uma nova gravação dos temas do EP “Jorge Morreu”, comemorativo dos 40 anos do lançamento do disco de estreia da banda. A edição mantém a mesma imagem da capa e os temas foram regravados em janeiro de 2019, com a particularidade de manterem a mesma acústica da gravação original. No encerramento da exposição a banda apresentou a reedição remasterizada do álbum “Comédia Humana”, com três temas bónus e alterações na estética da capa.

Anos 2020

No dia 21 de março os UHF iniciaram o Momento Musical Caseiro (MMC) – um desafio criado por Ivan Cristiano para descrever o showcase acústico e íntimo – emitido nas redes sociais a partir da casa de AMR durante o confinamento da pandemia de COVID 19. Os concertos semanais prolongaram-se até 26 de setembro e, nesse dia, o espetáculo foi gravado ao vivo. Entretanto retomados, devido ao prolongamento do Estado de Emergência. A 4 de abril a RTP anunciou a escolha da canção “Portugal (Somos Nós)”, dos UHF, para ilustrar um separador televisivo dedicado ao momento pandémico que os portugueses viveram. O tema, recuperado do álbum “Porquê” (2010), foi lançado em vídeo com imagens recolhidas pelo canal público, para contentamento do líder da banda: “Quando uma canção é útil, além do expectável, fico feliz como autor, muito feliz.” No dia 23 de outubro de 2020 foi lançado o sexto álbum ao vivo Aula Magna – “40 Anos Numa Noite”, data que também celebra os 40 anos do lançamento do single “Cavalos de Corrida”. O duplo disco compacto recupera o concerto realizado na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, no dia 22 de dezembro de 2018, e tem 20 canções. Foram extraídos quatro singles com a participação de convidados especiais. A 18 de dezembro foi lançado o livro, juntamente com um disco compacto, com o título “De Almada Para o Mundo”. O livro reúne 52 textos de reflexão sobre a pandemia e uma entrevista em 128 páginas, e o disco ao vivo (sem público) integra onze canções gravadas no 27º mini-concerto (MMC) em 26 de setembro.

Em fevereiro entra o baixista Nuno Correia e o teclista Miguel Urbano. A 4 de março foi lançado o single “Ucrânia Livre”, tema de solidariedade para com os ucranianos e condena a invasão ditada pela Federação Russa. A canção é uma readaptação ao piano de “Sarajevo (Verão de 92)” dos UHF com uma nova letra. Os fundos obtidos pelos direitos de autor da canção foram entregues para auxílio aos refugiados. ‘Ucrânia Livre’ é o meu contributo para minimizar o esforço de todos, para que o mundo livre não esqueça que a pata cardada não pode esmagar o desígnio de um povo. Que a canção desperte o melhor que o ser humano tem: solidariedade, amor fraterno, equilíbrio, paz.

Com a edição do 14º álbum de originais “Novas Canções De Bem Dizer” inicia-se a comemoração dos 45 anos de carreira da banda de Almada. Como diz António Manuel Ribeiro relativamente a estes 45 anos de carreira “chegar aqui foi uma caminhada, não foi um escorrega num parque aquático, por vezes até foi duro, e sempre muito exigente. Mas a exigência deve começar por nós”. AMR sobre “Novas Canções de Bem Dizer”; “escrevo sobre nós, o que vejo nem sempre é bonito, antes sórdido, triste e automático”. Concluindo este mesmo pensamento com a frase “este disco é como um espelho, faz pensar; esquecer não é uma boa solução”. Novas Canções de Bem Dizer é um disco que nos fala de Amor, de Intervenção e é um disco irónico, certeiro e sacana. Este disco é uma revelação”. No dia 18 de Novembro, a convite da CM de Almada, os UHF voltaram a uma sala que bem conhecem e que se transformou numa das salas míticas do Rock em Portugal – Incrível Almadense para um concerto ao vivo perante os seus fãs e assim comemorarem os 45 anos sobre o primeiro concerto no Bar É (1978).